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Maio
VISITA
Estudantes visitam São Luiz do Paraitinga: patrimônio material e imaterial em diálogo
Certa vez, José Saramago escreveu uma daquelas frases capazes de esclarecer sentimentos que nem sempre são muito transparentes para nós mesmos. Para o autor português, “Fisicamente habitamos um espaço, mas, sentimentalmente, somos habitados por uma memória”. A afirmação do autor diz muito a respeito da relação que os pouco mais de dez mil moradores de São Luiz do Paraitinga têm com a cidade.
O município, que no ano de 2010, teve seu centro histórico arrasado por uma inundação, cujas águas destruíram dezoito imóveis construídos em taipa de pilão e viu sua Igreja matriz ruir, está hoje praticamente recuperado.
Foi essa cidade restaurada e, em certa medida, reconstruída que os alunos do oitavo e nono semestres do curso de Arquitetura e Urbanismo visitaram no dia 20 de maio de 2018. Na ocasião, os estudantes foram à campo para verificar os procedimentos de restauro da Capela de Nossa Senhora das Mercês, da Igreja matriz dedicada à São Luis de Tolosa e de outras edificações reerguidas após a enchente de 2010.
A aula externa contou com a participação do historiador da cidade, doutor em História Social (FFLCH/USP), João Rafael Cursino. No quintal da casa onde nasceu o médico sanitarista Oswaldo Cruz, sob uma enorme paineira, o pesquisador falou com o grupo acerca da importância do patrimônio imaterial para os moradores da cidade.
A proposta da viagem técnica era colocar em discussão os critérios empregados nos projetos de restauro/reconstrução aplicados ao patrimônio edificado da cidade. Além disso, havia também a intenção de proporcionar aos alunos a experiência de participarem de uma das festas populares mais tradicionais de São Luiz: a festa do Divino Espírito Santo.
Ao visitarem a casa do Império, tomarem parte das várias procissões que ocorreram ao longo do dia, seguirem os grupos de moçambique, congada e dança de fitas ou, simplesmente, se divertirem observando o esforço dos moradores locais para escalar o pau de sebo, os alunos vivenciaram a relação entre as dimensões material e imaterial do patrimônio. De acordo com João Rafael Cursino, a chave para compreender como se deu o processo de restauro (e de reconstrução) da cidade está numa palavra: identidade. A ideia de pertencimento fornecida pela noção de identidade levou os habitantes a lutarem para terem São Luiz do Paraitinga de volta. E é essa identidade que os alunos viram em ação durante todo o domingo dedicado ao Divino.
Em tempo, a citação de Saramago foi tirada do texto “Palavras para uma cidade” e pode ser lida no blog http://caderno.josesaramago.org/1253.html. Quem quiser ler a belíssima pesquisa do historiador João Rafael Cursino, o título é “A cultura como protagonista no processo de reconstrução da cidade de São Luiz do Paraitinga/SP”. (José Saramago - Palavras para uma cidade in O Caderno).
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